quarta-feira, 23 de julho de 2008

[Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior]


Pena
(Fernando Anitelli E Maíra Viana)

O poeta pena quando cai o pano

E o pano cai

Um sorriso por ingresso

Falta assunto, falta acesso

Talento traduzido em cédula

E a cédula tronco é a cédula mãe solteira

O poeta pena quando cai o pano

E o pano cai

Acordes em oferta, cordel em promoção

A Prosa presa em papel de bala

Música rara em liquidação

E quando o nó cegar

Deixa desatar em nós

Solta a prosa presa

A Luz acesa

Lá se dorme um sol em mim menor

[Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior]

O palhaço pena quando cai o pano

E o pano cai
A porcentagem e o verso

A rifa, a tarifa e refrão

Talento provado em papel moeda

Poesia metamorfoseada em cifrão

O palhaço pena quando cai o pano

E o pano cai

Meu museu em obras, obras em leilão

Atalhos, retalhos, sobras

A matemática da arte em papel de pão

E quando o nó cegar

Deixa desatar em nós

Solta a prosa presa

A luz acesa

Já se abre um sol em mim maior

[Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior]

domingo, 20 de julho de 2008

MEDOMEDOMEDOMEDOMEDOMEDO


O MEDO GLOBAL - Eduardo Galeano


Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.

Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.

Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.

Os motoristas têm medo de caminhar e os pedestres têm medo de ser atropelados.

A democracia tem medo de lembrar e a linguagem têm medo de dizer.

Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras.

É o tempo do medo.

Medo dos ladrões, medo da polícia.

Medo da porta sem fechaduras, do tempo sem relógios, da criança sem televisão, medo da noite sem comprimidos para dormir e medo do dia sem comprimidos para despertar.

Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode ser, medo de morrer, medo de viver.

domingo, 13 de julho de 2008